terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dois mundos

- A historia abaixo é continuação da série " Rumores de Guerra", acompanhe desde o inicio no link ao lado.


O quarto era aconchegante, silencioso, calmo e por um instante foi um alivio fechar a porta e respirar por um minuto, apenas um. A luz apesar de acesa não iluminava como as luzes convencionais, apenas clareava o suficiente para dar seqüência ao clima que veio se alimentando por tempos.

Eles se beijaram, longamente, sedentos um do outro como se esse fosse o ultimo prazer que teriam em vida, ou o primeiro. Suas mãos curiosas se procuravam, se tocavam, se percorriam, intensas, ávidas, serelepes.

Para ela, ele era como o deserto de onde vinha, sua pele era áspera, de uma textura diferente das que ela havia sentido, quente, queimada pelo sol. Homem de traços fortes, expressão grave, pouco sorrisos e sempre muito reservado.

Ele a tocava com firmeza, como se cada pedaço de seu corpo pudesse guardar seus sentidos, sua pele, seu cheiro, seu sexo. Era a primeira vez para ele com uma mulher que não fosse de seu povo.

A primeira vez que desatou um sutiã de uma mulher, as que tivera até aquele dia não tivera esse trabalho. A primeira mulher que imaginara nua pelo contorno de suas roupas, normalmente agarradas. A primeira que mostrava detalhes de seu corpo, de sua pele, sem se importar com seus olhares.

A forma como ela se movia e reagia a seus toques era diferente. Seus gemidos que em alguns momentos se tornaram gritos assim como a forma como seus quadris se moviam lembravam as danças da terra hospedeira, o excitava, o provocava... era o novo, desconhecido, diferente, um renovo para ele.

A liberdade, era o que sentia dela naquele momento, era a liberdade com que ela se entregava, com que falava o que sentia, que pedia o que lhe agradava guiando seus toques; A liberdade com que se permitia o prazer também lhe prendia a ela.

A noite seguiu, e eles se desfrutaram durante cada momento que ela lhe permitiu, seus lábios, suas pele , seus corpos que se davam e se recebiam sem limites , sem pudores, sem regras.

Algum tempo havia se passado desde o primeiro encontro durante o incêndio que destruiu a comunidade e os uniu, no começo uma amizade distante que unida pela diferenças se fortaleceu, e agora algumas dessas cenas passavam na cabeça dela como flashes.

O dia em que ele a viu dançar pela primeira vez, nada disse , seus olhos gritavam no meio de uma multidão ensandecida, depois daquele dia seus olhos tornaram-se mais gulosos, perscrutadores , ate o dia em que lhe roubara o primeiro beijo.

E agora estavam ali Rosa e Najiv, dois mundos diferentes que naquela noite eram muito menos que isso, eram apenas dois corpos desejosos um do outro.

- Najiv, você sempre me falou muito pouco sobre você – os olhos de ambos se encontraram - Sei um pouco da sua infância tão sofrida quanto a minha, mas por que escolheu vir morar em um país como o meu ? por que escolheu o Brasil para viver?
- Najiv não escolher Brasil. Najiv foi mando para Brasil, ser importante estar aqui . Najiv ter missão aqui.

- O que é essa missão ?

- Não perguntar aquilo que não é bom saber, ser melhor você não saber, mais seguro.

- Eu sempre soube me cuidar sabia – Rosa sorri – Se soubesse dos traficantes que já enfrentei para tirar amigo meu de encrenca, você não tentaria me proteger e sim se proteger.

- Eu representar meu povo, eu carregar na minha carne o sofrimento do meu povo e eu ter missão a cumprir, cobrar o sangue de meu povo, de meus pais, de meus irmãos. Eu ter sido salvo por milagre, minha vida ter um propósito, não perguntar mais, não poder falar mais.

O dia estava amanhecendo, era hora de cada um voltar para sua própria guerra.