quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Rumores de Guerra - Parte 2

Rumores de Guerra parte 2 - O encontro de dois mundos


Foi questão de minutos como em um passe de mágica, pessoas gritando e correndo desesperadas, um grande alvoroço, todos começaram a sair de suas casas procurando de onde vinha o fogo. A fumaça manchava o cenário da manha, vinda do ponto mais baixo da favela, o ponto mais próximo a linha férrea.

A madeira era um combustível abundante que alimentava a fome do fogo que a tudo devorava rápida e intensamente, consumindo sem parar. Nada que não fosse retirado de seu caminho seria perdoado, não seria.

A corrida era para salvar alguma coisa, qualquer coisa. O tempo era escasso, um grande inimigo que se somava ao desespero. Pessoas se intoxicavam tentando controlar o fogo sem equipamento apropriado, era uma gota em um oceano.

Aos poucos o tumulto começou a crescer, mais e mais pessoas tentando salvar seus pertences, mais e mais pessoas correndo desesperadas e fogo seguindo por todas as direções. A proximidade com os cabos de força da linha férrea metropolitana obrigou a interromper o tráfego, atraindo os olhos da imprensa.

O corpo de bombeiros chegou ao local, mas o acesso ao local que originou o fogo não estava sendo fácil, era talvez o lugar de mais difícil acesso da comunidade, não havia uma rua que levasse ao local, eram vielas estreitas, seria um trabalho difícil, beirando o impossível.

Rosa estava a esta altura ajudando a acomodar as crianças em local seguro, tarefa difícil, uma vez que qualquer local dentro da comunidade não era seguro em sua totalidade. Foi neste cenário que um rapaz alto, esguio, jovem e de aparência austera se apresentou.

- Eu querer ajudar - falou baixo mas com firmeza – eu ter uma organização perto daqui , poder deixar as crianças em segurança.

- É melhor não tira-las daqui, obrigado – tão firme quanto o convite, a recusa.

- Você vir, os pais deles poder vir até aqui ser lugar seguro. Eu querer ajudar.

- Eu ser Najiv.

- Rosa.

O sotaque árabe, a barba típica dos jovens daquela região tornaram dignos de confiança os gestos do rapaz, foi uma questão de minutos acomodar alguns adultos e grande parte das crianças em automóveis rumo ao local por ele oferecido.

Ao lado do mais novo voluntario Rosa acomodou-se para levar as crianças para um local seguro. O tumulto crescia a cada momento com a chegada de curiosos, imprensa policiais e familiares dos moradores.

O local oferecido servia de abrigo também a imigrantes, havia muitas mulheres no local, todas com véu cobrindo os cabelos e aparência dócil. O lugar era silencioso apesar de ter algumas crianças circulando.

Não houve mal estar no primeiro impacto, era como se um condigo não verbal de “ viva e deixe viver” estivesse implícito . As mulheres que ali se encontravam serviram um almoço a todos presentes , foi um momento de paz.

Em meio a guerra.

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